segunda-feira, 29 de novembro de 2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

pum!

"(...) E dorme em paz/ Que tu não tens de dar o teu sorriso assim/ esgotando o teu juízo assim,/tu não tens de mudar./ Quem te quer mudar,/ não te quer conhecer,/ tu não tens que o fazer"

Não preciso que gostem de mim apesar de não gostar que me detestem. Enfim, há pelo menos um grupo que se mantém firme e o resto não existe.

"Tu pensas que não/ mas tu és mesmo bom/ a ser sempre quem és"

domingo, 7 de novembro de 2010

tired of tears

Sempre desejei sentir como seria ter alguém a brincar comigo durante as imensas tardes em que imitava as vozes dos meus bonecos. Ouvia a cassete do "Papuça e Dentuça" vezes e vezes sem conta, saltando sempre a parte do urso, sozinha no quarto, e via a cassete d'"A bela adormecida" ou "Pocahontas" outras vezes sem conta que até sabia as falas e as músicas de cor, sozinha também. Raras eram as vezes que a minha mãe jogava um qualquer jogo comigo. O meu pai jogava mais mas desligava menos do trabalho. Sempre quis não ter a necessidade de inventar amigos imaginários com quem falava de tudo. Queria uma pessoa. Queria um irmão.
Era engraçado como todas as pessoas que sabiam que era filha única me dirigiam a palavra sempre com a mesma pergunta: e não querias ter um irmão? Ou: já pediste um irmão aos teus pais? E eu dizia sempre o mesmo: queria/já pedi mas... Sabia que não era assim tão fácil, que não era uma cegonha que os trazia de França e que não podia escolher estas coisas. Uma vez cheguei a escolher um nome de rapaz, tinha eu 7 anos. Ia ser rapaz desse por onde desse. Se ao menos tivesse desenvolvido, crescido, sobrevivido... Agora, com mais 10 anos em cima, fui eu quem escolheu o irmão que seria meu por 3 meses. Pus altíssimas espectativas. Não idealizei mas esperei uma ligação forte, uma ligação de irmãos! Pelas redes sociais, as conversas eram fantásticas... Grandes espectativas sobre o tempo fantástico que iria ser. Uma ligação foi-se esboçando... Mas de esboço não passou apesar de uma primeira semana fantástica e que se desenvolveu num dimunuendo... Agora, a 3 semanas de um adeus digo: espero que o próximo irmão, se houver próximo, seja melhor, seja irmão!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

will you do that for me?


"Quem começou com a brincadeira, quem a inventou, foi o Simão. A Marta ainda morava em Benfica. A Elisa era pequena, o Simão abria os braços e dizia-lhe:
- Dá-me um abraço com a força com que gostas de mim!
A Elisa sorria com os olhos, começava a correr e ia pôr-se, com os braços abertos, muito longe do Simão. Ele fingia que chorava com o choro fingido de uma criança, fingia que esfregava os olhos. Depois de a Elisa acreditar que ele já tinha chorado o suficiente, corria para os seus braços e apertava-o com toda a força. Apertava-o até a garganta começar a fazer o barulho de muita força. Nesse momento, parava e o Simão dava-lhe beijos ruidosos nas faces.
Eu sabia que o Simão visitava a Maria. Eu não falava sobre isso, mas sabia. O Simão fez essa brincadeira também com a Ana. O Francisco começou a fazer essa brincadeira com o Hermes e, depois, com a Íris. Quando o Francisco entra em casa da Maria, procura a Íris, abre os braços e diz-lhe:
- Dá-me um abraço com a força com que gostas de mim!"


In Cemitério de Pianos, de José Luís Peixoto